Especialista em gestão ambiental explica sobre as problemáticas ambientais decorrentes do desastre natural e indica caminhos para a reestruturação do Estado
As enchentes que dominaram todo o estado do Rio Grande do Sul resultaram em ruas repletas de rejeitos. Resíduos orgânicos e inorgânicos, como metais, produtos químicos industriais, pesticidas, óleos e combustíveis são os mais visíveis. Nas últimas semanas, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) anunciou que foram retiradas 7.370 toneladas de resíduos das calçadas de Porto Alegre e que todo o lixo está sendo encaminhado a um aterro emergencial. No entanto, trata-se de uma ação a longo prazo que pode causar efeitos danosos ao meio ambiente.
A geógrafa, especialista em gestão ambiental e fundadora da Singular Ambiental, Susi Uhren (foto), explica como esses resíduos podem provocar a contaminação dos solos e aponta possíveis alternativas para a reestruturação ambiental do Estado. “Durante uma enchente, ocorre o processo de lixiviação, onde a água percola através do solo, dissolvendo e transportando contaminantes para camadas mais profundas e alcançando os lençóis freáticos. Quando a água da enchente recua, esses sedimentos se depositam no solo, deixando para trás poluentes que podem se acumular e persistir no ambiente”.
Para Susi, após um desastre ambiental de grande magnitude, é necessário realizar um estudo de gerenciamento de resíduos. A partir disso, elaborar um plano de ação, incluindo locais de armazenamentos temporários e uma rápida avaliação das áreas afetadas para mensurar os danos.
Esse processo pode ser dividido em três partes:
- Separar os resíduos em categorias: orgânicos, recicláveis, perigosos, eletrônicos e entulhos de construção;
- Estabelecer locais seguros para armazená-los até que possam ser processados ou descartados;
- Encaminhá-los para indústrias de reciclagem, instalações especializadas, aterros e buscar alternativas sustentáveis, como o aproveitamento energético.
De modo geral, as grandes enchentes e a contaminação do solo exercem um impacto abrangente, estendendo-se para diversas esferas. Na agricultura, as inundações podem prejudicar a produção de alimentos e a vitalidade dos ecossistemas agrícolas. A inundação de campos agrícolas, por exemplo, pode sufocar as plantações e desencadear a erosão, removendo a camada superior e mais fértil do solo. Nesse cenário, a terra contaminada compromete a saúde dos animais que dependem das pastagens e da água local para sobreviver, acarretando em custos substanciais de remediação e recuperação para os agricultores.
A economia também não está imune à crise. O setor industrial pode enfrentar danos em suas atividades fabris e produtivas, resultando na interrupção dos processos e prejuízos significativos. Susi enfatiza também sobre a questão da saúde pública, já que áreas com hospitais e postos de saúde podem ser afetadas e sistemas de água comprometidos. Propriedades residenciais e comerciais sofrem danos significativos, elevando os custos de reparação e seguros, enquanto o comércio e serviços locais enfrentam graves perdas financeiras.
A especialista destaca a importância de um monitoramento contínuo da qualidade dos três elementos (terra, água e ar) para a recuperação. Essa vigilância pode ajudar na detecção de possíveis contaminantes. Além disso, ela afirma que devem ser solicitadas avaliações de impacto após as enchentes.
“A contaminação do solo resultante de enchentes é um problema complexo que requer uma abordagem multifacetada para avaliação, remediação e monitoramento. A implementação de estratégias eficazes pode ajudar a mitigar os impactos ambientais e proteger a saúde pública”, conclui.
Mais informações: singularambiental.com.br
Fonte: Raeesah Salomão/Mengucci-Imprensa e Mídia
Fotos: Divulgação.