O fortalecimento do associativismo em tempos de Coronavírus

Como a maioria das crises gera oportunidades, vejo nesta em especial a chance de as entidades fazerem valer sua missão, levando suporte aos seus associados e não os deixando à mercê da própria sorte.
Claudemir Marcos Prattes é Administrador de empresas, especialista em gestão empresarial e marketing e gerente do Departamento de Relações Institucionais (DRI), do Crea-PR.

(*) por Claudemir Marcos Prattes

Entre tantas consequências da pandemia da Covid-19, uma que terá impactos positivos é o fortalecimento do associativismo. Se até há um tempo enfrentávamos um certo descrédito das entidades, associações, sindicatos e afins – em muito gerado pelas burocracias e exigências criadas por legislações que afetam o andamento das atividades associativistas e das profissões regulamentadas no país,  propostas que visam a extinção de conselhos, associações, sindicatos, comitês, comissões e grupos, em meio a esse cenário, a situação se reverte de forma drástica, imediatamente no momento em que profissionais são compelidos a buscar orientação, informação confiável e suporte de seus pares. O que era um cenário de desvalorização do associativismo e descrença na relevância das entidades adquiriu um novo papel em prol de benefício do coletivo.

A meu ver, a grande temática do momento – que é a inovação por meio do trabalho colaborativo entre profissionais – não teria melhor hora para fazer tanto sentido. E quem possui know how suficiente para prestar este tipo de atendimento? Justamente as entidades de classe, que têm em sua essência o fortalecimento dos profissionais, das profissões e a missão de levar conhecimento técnico e apoio aos colegas da mesma área.

Como a maioria das crises gera oportunidades, vejo nesta em especial a chance de as entidades fazerem valer sua missão, levando suporte aos seus associados e não os deixando à mercê da própria sorte.

Esse é o momento oportuno de promover ainda mais o aperfeiçoamento técnico com parcerias, fomentar a formação profissional de jovens que ingressam em um mercado novo e em constante mutação, e buscar a interlocução com os poderes públicos constituídos com ações objetivas – como a criação de uma pauta de reivindicações, como uma agenda parlamentar. Há também campo fértil para batalhar pela redução da burocracia e pela simplificação de processos que criam atritos com o já complexo exercício das profissões e lutar pela justa remuneração por meio do estabelecimento de critérios referenciais de prática de honorários profissionais.

Entendo que esse trabalho dos conselhos de classe deve ser disseminado em todo o Paraná, usando as parcerias e o potencial de capilaridade de suas entidades. São elas que servirão como um megafone positivo na orientação de seus pares profissionais, além de um filtro no excesso de informação e das fake news, sempre com base na ciência de suas profissões.

Aos que insistem em questionar o ‘custo do associativismo’, respondo aqui com alguns exemplos de retornos que as anuidades proporcionam às carreiras profissionais e às relações interpessoais, como o acesso sem custo a normas técnicas da ABNT, as centenas de cursos, treinamentos e atividades técnicas tão essenciais ao desenvolvimento de nossas atividades profissionais, ofertadas gratuitamente aos profissionais associados de entidades de classe, sejam de forma presencial ou on-line.

Ampliando a discussão, menciono também o acesso a recursos financeiros com valores infinitamente inferiores ao sistema financeiro brasileiro, oportunidades para investimento em equipamentos de trabalho, educação, veículos, assistência médica e odontológica. Vale aqui um destaque especial ao conhecimento técnico e científico proporcionado pelas publicações de livros, revistas técnico-científicas e bibliotecas virtuais disponibilizadas pelas entidades de classe, bem como a possibilidade de interação e compartilhamento de ideias, projetos e trabalhos que toda essa rede de network proporciona.

Concluindo, se a pandemia trouxe um péssimo e infeliz cenário, temos como reflexo positivo um novo olhar sobre o associativismo, e cabe a nós aproveitar a oportunidade e reiterar a importância de nossos esforços pensando na união profissional e no fortalecimento da coletividade.

Se a crise é o melhor elevador para o crescimento organizacional, vamos então tomar as rédeas desta situação e transformar os ensinamentos que ela oferece em ferramentas para nosso aprimoramento pessoal e profissional.

(*) Claudemir Marcos Prattes é Administrador de empresas, especialista em gestão empresarial e marketing e gerente do Departamento de Relações Institucionais (DRI) do Crea-PR.