O triste legado da Covid na educação

“Investir no desenvolvimento de crianças na primeira infância pode ser mais eficiente no combate à desigualdade do que políticas de distribuição de renda” – James Heckman

(*) por Michel Felippe Soares

O Brasil é um dos países onde as escolas ficaram fechadas por mais tempo, devido à pandemia. E isso causará impactos profundos para o resto das vidas de crianças e adolescentes em nosso país. Se antes 1,3 milhão de pessoas em idade escolar estavam fora das salas de aula, com a pandemia os dados mostram evasão de 4 milhões de estudantes a mais, segundo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Isso fará com que o Brasil regrida duas décadas em formação educacional, aponta o órgão.

Enquanto que em muitos países as escolas foram as últimas a fechar e as primeiras a abrir, quando houve necessidade de restrições maiores de circulação, a nossa nação inverteu o científico. Isso porque estudos apontam que o retorno às aulas pode ser feito com segurança, já que crianças e adolescentes são a faixa etária menos afetada pela doença. Nesse contexto ainda há a vacinação que em outros países atingiu, praticamente, todas as idades, enquanto que em solo nacional essa tarefa segue a passos lentos.

Crianças sem acesso à internet ou computadores foram ainda mais prejudicadas, milhares das quais estão excluídas de aulas remotas há mais de um ano. Pelos cálculos da Unicef 1,5 milhão de estudantes não frequentaram a escola remota ou presencial e 3,7 milhões que estavam matriculados não tiveram contato com as atividades escolares nem conseguiram se manter aprendendo em casa.

Os resultados serão catastróficos para esses estudantes e suas famílias. Um estudo do Prêmio Nobel de Economia, James Heckman, diz que investir no desenvolvimento de crianças na primeira infância pode ser mais eficiente no combate à desigualdade do que políticas de distribuição de renda. A baixa escolaridade vai repercutir no futuro profissional e na renda dessas pessoas. Isso sem contar que em poucos anos o mercado de trabalho verá o reflexo deste período.

Mas não é só. Se antes professores e comunidade escolar ajudavam a denunciar os maus-tratos e abusos que as crianças e adolescentes eram vítimas, sem escolas, perdeu-se essa rede de apoio. Outro grave problema é que estudantes que tinham acesso à alimentação quando frequentavam as aulas e também deixaram de contar com esse apoio. É um triste legado para um país que enfrenta grandes desigualdades, e que tudo indica deve se agravar com a pandemia e com tanto tempo sem acesso à educação. É um legado incalculável que só tem vítimas.

(*) Michel Felippe Soares é presidente da Associação Comercial e Empresarial de Maringá – Acim