“Enquanto não houver incentivos ao consumo, produção e infraestrutura, além de facilidade de financiamento, as pequenas e médias empresas sofrerão as consequências”
(*) por Felipe Avelar
O ano de 2022 reserva grandes desafios para as pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil. Diante de um cenário de lenta recuperação após o caos econômico que se instalou nos últimos anos, encadeando uma alta da taxa básica de juros para um patamar de dois dígitos, caberá aos empreendedores encontrar saídas criativas para driblar a crise e sobreviver no mercado, sobretudo no que diz respeito à tomada de crédito.
É difícil imaginar que os próximos meses sejam de avanço econômico, pois não há sinais políticos de que isso possa ocorrer num futuro próximo – a estagnação das reformas é um exemplo. Vale lembrar que o país irá às urnas no último trimestre e, consequentemente, toda a agenda política estará voltada para pautas eleitorais. Soma-se a isso a incerteza global gerada por uma pandemia que ainda não acabou e por conflitos geopolíticos desencadeados pelos recentes ataques da Rússia à Ucrânia.
Em meio a esta realidade pouco otimista para o mercado como um todo, as grandes companhias ainda conseguem manter uma estrutura de demanda por conta do consumo básico, e a corda começa a romper do lado dos pequenos e médios negócios, que dependem ainda mais do desenvolvimento econômico para se perpetuarem. Enquanto o PIB estiver baixo e não houver incentivos ao consumo, produção e infraestrutura, as PMEs sofrerão as consequências mais rapidamente e precisarão encontrar soluções para sobreviver no mercado.
Esse cenário de crédito pode até não ser perceptível no atual momento, devido à alta liquidez gerada pelo excesso de caixa dos financiadores, mas isso acontece justamente pelo fato de a economia estar estagnada. Porém, mesmo que haja a possibilidade de um rápido crescimento econômico, essa “pseudo-alavancada” se dissolve muito rapidamente, deixando uma alta demanda por crédito. Com a SELIC acima dos 10%, o custo-país encarece e a conta acaba sendo repassada às pequenas e médias empresas.
Porém, isso não significa dizer que não haverá crédito aos pequenos e médios empreendedores em 2022 – afinal, o capital existe, o maior empecilho é o acesso a ele por parte das PMEs. Trata-se apenas de um indício de que o cenário político-econômico exigirá saídas não tradicionais na hora de captar recursos. Os gestores financeiros precisam olhar com carinho para outros produtos e linhas de crédito disponíveis no mercado (como as oferecidas pelas fintechs) como uma solução para sobreviver a curto e médio prazo.
Um exemplo é a antecipação de recebíveis, uma linha de crédito que promove o adiantamento de quantias que a empresa receberia no futuro por meio de notas fiscais de produtos ou duplicatas, o que gera caixa rapidamente e permite a quitação de débitos mais urgentes. Nessa modalidade de crédito, o empreendedor pode, ainda, negociar as taxas com mais de uma instituição financeira, por meio de ferramentas como os market places de crédito.
Essa busca por alternativas certamente será uma das tendências no mercado de crédito para os empreendedores e deve ter um impacto enorme no “jogo de sobrevivência” das PMEs no Brasil em 2022.
(*) Felipe Avelar (foto), é fundador e CEO da startup Finplace (www.finplace.com.br), fintech que conecta de forma gratuita empresas que precisam de crédito com instituições financeiras. Foi por 10 anos vice-presidente de operações do Grupo Credit Brasil e possui grande experiência no segmento de crédito para MPMEs.
Fonte: Regina Ruiz/Punto Comunicação
Foto: Divulgação/Finplace.