Startups precisam para ontem de maior diversidade

Pesquisa mostra baixa participação de pessoas diversas como negros, mulheres, homossexuais e trans em um setor cuja bandeira é a inovação

(*) por Patrícia Rechtman

No final do ano, é comum as empresas se mobilizarem para fazer seus balanços, identificar ganhos, conquistas de metas e organizar as expectativas para o novo ano que se aproxima. Mas será que este balanço inclui uma análise sobre a diversidade nos seus quadros de colaboradores? E o setor de startups, tão associado à inovação, um ecossistema que representa o trabalho do futuro, como tem se posicionado sobre a inclusão de recortes sociais diversos? De acordo com uma pesquisa recente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), as startups não têm colocado seus discursos de apoio à diversidade em prática.

De acordo com o estudo da ABStartups, que entrevistou 2,5 mil startups entre agosto e setembro de 2021, 96,8% das empresas ouvidas disseram apoiar a diversidade, mas 60,7% afirmou não possuir processo seletivo voltado para a inclusão de grupos minoritários. Entre as startups ouvidas, 31,2% declarou não ter nenhum funcionário preto ou pardo, 19,1% afirmou não ter funcionárias mulheres, 62,3% não tem idosos, 90,3% sem PCDs e 90% não possui transsexuais entre seus colaboradores.

Esses números são preocupantes e podem ser ainda piores se fizermos esse recorte nas empresas que operam especificamente no setor financeiro, no qual atuo e represento parte dessas estatísticas. Vejamos mais resultados. O estudo da ABStartups revela que 78,1% dos fundadores das startups declaram-se homens, heterossexuais (92,1%), pardos (51,1%), brancos (33,7%), com 31 a 40 anos (45%).

Sou cofundadora de uma fintech de crédito, mulher, homossexual e trabalho num setor basicamente controlado por homens heterossexuais. Com esses dados, o setor de startups precisa não apenas se posicionar a favor da diversidade, mas adotar de fato a inclusão como um dos pilares do negócio, promover ações concretas com resultados que apresentem crescimento representativo na inclusão. Além disso, é indiscutível que uma equipe mais diversa traz para a empresa diferentes olhares e promove melhores resultados para o negócio.

Precisamos para ontem ter programas exclusivamente dedicados a contratações de minorias, implementar a cultura de diversidade em seus mais variados aspectos, trabalhando desde a questão comportamental de todos os colaboradores até tornar os ambientes aptos a receberem pessoas diversas.

É urgente ter o nosso olhar voltado para os recortes sociais de forma geral. Sejam na busca por mais lideranças femininas, questões raciais, LGBTQIA+, profissionais acima de 50 anos, inclusão de PCDs. Tudo precisa estar em nosso radar para que o setor de startups faça jus ao reconhecimento de ambiente inovador e inclusivo. O resultado de um modelo de gestão pautado em diversidade e inclusão se reflete não apenas em uma empresa mais plural, mas também em números nos negócios da empresa. Todos ganham.

Um bom exemplo de ações dentro de uma perspectiva urgente como essa, é abrir mão de algumas exigências mais técnicas e focar o olhar para potenciais, comportamentos, como se faz em contratações com foco em Soft Skills. Trabalhamos dentro desta ótica na fintech em que atuo e, por isso, posso dizer que é possível praticar a inclusão.

Também sou responsável pelo Comitê de Empatia na empresa e, por meio dele, realizamos palestras e consultorias com pessoas de vários recortes, a fim de saber como se organizar para receber colaboradores diversos. Realizamos, também, outras ações potenciais, como ter processos seletivos para vagas exclusivamente para profissionais diversos, que dão muito resultado. Temos muito o que mudar e implementar para se tornar uma empresa 100% inclusiva e estamos nos esforçando na meta.

(*) Patrícia Rechtman é cofundadora da fintech Finplace que, em dois anos de operações, atingiu R$ 1 bilhão de valores operados. Formada em publicidade pela ESPM e pós-graduada em Marketing pela FGV, Patrícia é responsável pela área de Comunicação & Marketing na Finplace, além de comandar projetos especiais como o Comitê de Empatia, voltado para a diversidade.