Ato chama a atenção para a ‘pobreza menstrual’ que atinge jovens carentes sem condições de comprar produtos de higiene
O objetivo dos estudantes é arrecadar mais absorventes e entregar para outras UBS’s da cidade
Estudantes de Medicina ligados à Liga Acadêmica de Saúde Materno-Infantil de Maringá, da Unicesumar, estão arrecadando absorventes íntimos na própria instituição e em vários pontos da cidade. O objetivo não é promover apenas a arrecadação, mas colocar em pauta o que chamam de ‘pobreza menstrual’.
O termo é utilizado para descrever mulheres sem recursos econômicos ou acesso adequado a produtos de higiene íntimos. A aquisição de um simples absorvente ainda está longe de muitas jovens. Algumas chegam até a abandonar os estudos.
Giovana Roper Moreschi, estudante do 5° ano de Medicina da Unicesumar, conta que ideia partiu da própria vivencia em estágios realizados em Maringá e Sarandi. Em muitos atendimentos, mulheres relataram que usar absorvente era muito caro e que não poderiam arcar com esse custo mensalmente.
“Disseram que utilizavam jornais, roupas, panos velhos ou compravam um absorvente e usavam o mesmo várias vezes, ou deixavam escorrer pelo corpo. Muito triste”, lamenta. As alunas pesquisaram o tema para entender melhor essa realidade e encontrar uma alternativa para que essas mulheres pudessem ter acesso ao produto íntimo.
Uma mulher tem cerca de 450 ciclos menstruais durante a vida e utiliza, em média, 20 absorventes por ciclo. Estima-se que sejam usados 10 mil absorventes durantes toda a idade fértil. “Se considerarmos um custo médio de 60 centavos por absorvente, chegamos ao valor de R$ 6 mil reais”, calcula a estudante. “Fora que os absorventes são tributados em 25% dos impostos, caracterizando um artigo de luxo”.
A estudante defende a ideia de que absorventes deveriam ser tratados como um produto de acesso gratuito para todas as mulheres em condições vulneráveis. ” Menstruar não é uma escolha para nós, mulheres. Simplesmente temos que passar por isso todos os meses e muitas não podem comprometer a saúde no uso de alternativas ao menstruar”.
Junto com a questão econômica, ainda há o preconceito. É um assunto que envolve vergonha, superstições, nojo, mal-estar, mitos e isso é transmitido pela sociedade por várias gerações. “Muitas vezes, as próprias mulheres sustentam esses preconceitos pela forma em que foram criadas e por não conhecerem o funcionamento do próprio corpo”.
Giovana entende que quando uma menina menstrua pela primeira vez, o evento deveria ser considerado natural. Porém, o assunto é mantido em segredo pelas mulheres da família que rapidamente já compartilham uma série de ‘mitos’ e ensinam como esconder o período menstrual.
SAÚDE
O uso de alternativas à absorvente causa danos à saúde da mulher como as infecções íntimas causadas pela contaminação do sangue menstrual por bactérias. “Uma infecção grave, relacionada com a pobreza menstrual, é a Doença Inflamatória Pélvica (DIP), quando microrganismos entram pela vagina, chegam ao colo do útero, trompas e ovários, e causam inflamações. Ou a Endometrite, infecção na camada interna do útero”.
”Se uma mulher e crescer escutando inverdades sobre menstruação faz com que nos afastemos do nosso próprio corpo e não tenhamos conhecimento do seu funcionamento, causando diversos problemas de saúde e de autoestima”, acrescenta.
As estudantes estão arrecadando absorventes descartáveis externos (de tamanho comum, noturno, adaptável, com ou sem abas) e doando para as Unidades Básicas de Saúde de Maringá.
UBS ACLIMAÇÃO
Na quinta-feira (24), a Prefeitura de Maringá recebeu a doação de absorventes arrecadados a partir da campanha realizada por estudantes do terceiro e quinto ano de Medicina da Unicesumar. A entrega foi feita na Unidade Básica de Saúde (UBS) Aclimação. O objetivo dos estudantes é arrecadar mais absorventes e entregar para outras UBS′s da cidade.
Segundo Giovana Moreschi, estudante que está na organização da campanha, os alunos de Medicina atendem muitas mulheres que têm dificuldade para comprar absorvente todo os meses. “Algumas usam alternativas como jornal, roupas velhas, pano e até miolo de pão. Existem aquelas que até deixam a menstruação escorrer pelo corpo. Nos sensibilizamos com essa situação e por isso mobilizamos essa campanha“.
A Diretora da UBS Aclimação, Ana Lucia Faria, frisou que a iniciativa dos estudantes é importante para dar mais dignidade às mulheres que não conseguem adquirir os absorventes. Ela espera que outras campanhas consigam abranger outras unidades de saúde.
Serviço :
Local de arrecadação – Coordenação do Curso de Medicina da Unicesumar
Av. Guedner 1610 – Bloco 6 – 1 Andar – Das 8 às 18 horas
Para conferir outros pontos de arrecadação, acesse a conta da Iasmimunicesumar, no Instagram.
Da Redação com informações da Unicesumar e Siacom/PMM. – Foto: Divulgação.